Entre fissuras
Elaine Tedesco, agosto de 2018
Os desenhos de Claudia Hamerski têm como ponto de partida a sua atenção para a persistência da natureza sobre o concreto. Em suas andanças pelas ruas, seu olhar é constantemente atraído pelas plantas que nascem por entre as brechas das construções no espaço urbano.
Fendas úmidas acolhem sementes que brotam e se fazem folhas. São daninhas espalhadas pelas calçadas e paredes. Brotos capturados por um relance.
Folhas que são tornadas linhas, manchas e cores.
Linhas sobre outras folhas, agora papéis brancos com grandes áreas vazias.
Linhas, rastro do gesto rápido sobre o papel, marcam um ir e vir repetido na cor do preenchimento, são curvas sinuosas que se insinuam em formas folhas. Linhas fugidias, demarcando espaços. Linhas longe do centro.
Fissuras como figuras e as marcas de seus gestos espalham-se pela superfície do papel impregnando-o de seu desenhar.
Entre 2013/2014, durante o estudo de mestrado, seus desenhos possuíam um vínculo estreito com a fotografia. Naquele período, primeiro, a artista encontrava as plantas por entre as fendas da arquitetura, fotografava-as, imprimia-as e, depois, desenhava. Com o passar do tempo, o seu desenho foi ganhando força e autonomia diante da captura fotográfica, Claudia Hamerski ampliou a escala e arriscou-se com muita energia sobre um largo conjunto realizado com grafite sobre papel, resultando, em 2016, na exposição Topofilias, apresentada nas salas negras do MARGS. Para a artista, essa escala "tem por objetivo de conter, de envolver, de estar em relação ao observador" e permite-lhe explorar o desenho "o rastro da mão, o borrão, o desencontro, o vestígio do esboço".
Nesta nova série, a cor passou a ser o elemento de risco. Ficam explícitos os testes de cor, incluindo marcas do apontamento do lápis largadas pelo pó de grafite/carvão/crayon que cai e impregna a folha, dessa forma, deixando seu rastro. Seu processo de trabalho atual tem como objeto de observação as imagens na tela do celular, uma fonte que permite zoom in e zoom out, favorecendo o seu devaneio ao rever os fragmentos das imagens capturadas, gerando a experiência de um desenhar mobilizado pelo fascínio dos detalhes.
Claudia conta que foi o desenho de uma fissura – uma fenda que existe numa parede próxima à Galeria Mamute – o ponto de partida da exposição Entre fissuras. Para ela, "a fissura não está presente em todos os desenhos, mas todos os desenhos partem da fissura. Quando desenho observando a imagem fotografada é naquela fissura que eu quero entrar".
Nos desenhos, as imagens de plantas desprendem-se das fendas; e as folhas ganham autonomia. São, agora, mais do que antes, pretexto para o deslizar da linha e encontrar as áreas de cor preenchidas com crayon ou grafite a evocar-nos intensidades entre fissuras.
Texto escrito por Elaine Tedesco curadora da exposição Entre Fissuras, realizada em 2018 na Galeria de Arte Mamute em Porto Alegre RS - Brasil.